Direção: Ana Endara (“Querido Tropico”)
Produção: Panamá, Chile
Gênero: Drama, Romance, Introspectivo
Após o aclamado Querido Tropico, a cineasta Ana Endara retorna com Querida (originalmente Dear One), uma obra que continua a explorar os mistérios e as complexidades da conexão humana. No entanto, desta vez, a diretora se afasta das paisagens tropicais e se volta para um cenário mais íntimo e introspectivo, com uma narrativa que se desenrola exclusivamente por meio de cartas trocadas entre dois personagens distantes, tanto fisicamente quanto emocionalmente.
O filme conta a história de uma relação epistolar entre um homem idoso e uma jovem mulher que vive em um continente distante. Embora separados por milhas de distância, seus sentimentos, dúvidas e reflexões transbordam das palavras trocadas, criando uma conexão que transcende o espaço físico e atinge as profundezas da experiência humana. Através de suas cartas, eles compartilham não apenas seus pensamentos mais íntimos, mas também suas memórias, sonhos, medos e esperanças – revelando as vulnerabilidades que muitas vezes permanecem ocultas nas interações cotidianas.
A proposta do filme é simples, mas profunda. Ao contrário de produções que tentam expandir a narrativa por meio de múltiplos personagens ou tramas complexas, Querida se concentra em uma forma de comunicação essencialmente silenciosa e introspectiva: a troca de palavras no papel. As cartas, que podem parecer antiquadas no mundo moderno da comunicação digital instantânea, tornam-se um símbolo poderoso de reflexão e de busca por significado. Cada palavra escrita é um convite para a intimidade e um espelho das incertezas e complexidades de seus autores.
A direção de Endara é marcada por um minimalismo que permite que os silêncios e os intervalos entre as palavras falem tanto quanto os diálogos. O ritmo do filme, embora tranquilo, não é monótono, pois a tensão emocional entre os dois protagonistas cresce à medida que eles compartilham suas vidas, suas frustrações e suas alegrias. A escolha de focar exclusivamente nas cartas também dá ao filme uma qualidade de meditação sobre o tempo e a memória, temas que são explorados com delicadeza e sensibilidade.
A atuação, embora baseada na ausência física dos protagonistas (já que os personagens nunca se encontram pessoalmente), é fundamental para transmitir a emoção contida em suas palavras. A escolha do elenco foi acertada, pois as vozes e as expressões que acompanham as cartas tornam cada troca mais tangível e cheia de significado. Mesmo sem um contato visual direto, a química entre os personagens se manifesta de maneira poderosa através de suas letras.
Por que estamos ansiosos por Querida? O sucesso de Querido Tropico demonstrou a capacidade de Endara de explorar a complexidade das relações humanas com um olhar sensível e profundo. Em Querida, a diretora mantém sua abordagem minimalista, porém com uma nova lente sobre a comunicação e a solidão. Ao focar nas cartas e nas trocas íntimas de pensamento, Endara cria uma obra que nos leva a refletir sobre como nos conectamos uns com os outros – ou como, muitas vezes, somos separados por barreiras invisíveis, mesmo estando próximos.
Com sua habilidade única de traduzir emoções complexas em cenas simples, Querida promete ser mais uma jornada de introspecção e empatia, abordando a natureza efêmera e, ao mesmo tempo, profunda da comunicação humana. É um filme que nos faz pensar sobre o poder das palavras e a maneira como, mesmo a distância, conseguimos tocar a alma do outro.